Saudade

"Desfiou a barra mal costurada em seu coração. Desfiou e retirou dali cada ponto grosseiro, desalinhado, assimétrico que tinha feito. Era tanto desencanto para desfiar que ali passou por três dias sem mais nada fazer... E sorriu (nada mais lhe parecia certo naquele momento). Costurou então seu coração com palavras macias, gracejos, carinho na ponta dos dedos do pé, beijos na nuca, mãos que circundavam a cintura, com as canções mais bonitas, meias listradas. O seu coração então encheu-se de cor...
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Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. Continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada
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É uma coisa que me dói muito, esses seus silêncios. Sei - claro - que você deve ter problemas bastante sérios, mas uma carta de vez em quando não custa nada e, às vezes - quem sabe? Talvez a gente pudesse ajudar. Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios. A sensação que tenho é que você simplesmente não está a fim de transar muito - e cada vez que tomo a iniciativa de escrever é sempre meio tolhido, sem naturalidade, com medo de incomodar, de ser indesejável. Não é uma coisa agradável. Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade. E se é verdade que o tempo não volta, também deveria ser verdade que os amigos não se perdem.
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Substituímos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse é o nosso jeito de continuar."
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