Novo ano,

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"Que seja do Bem. Que absorva o mal e nos salve, de vez em quando, pra que a gente possa viver além, apesar de e sobre todas as coisas. Que não demore e que não seja tão rápido também. Que a espera venha com um sorriso de brinde, com um amor sobre o colo querendo acontecer sempre, sempre. Que não seja tarde, que seja belo. Que seja triste, por pouco tempo. Que a dor nos abrace no momento oportuno e deixe o abraço muito antes do momento certo. Que a gente dure um pouco mais no outro com o coração inteiro, de todos os jeitos, com todas as palavras e presenças. Que o verso não acabe, que a inspiração não se atrase para a próxima sensação. Que o silêncio não atrapalhe, que a poesia atravesse a indelicadeza dos dias. Que o olhar encontre um porto. Que os milagres desaguem no corpo. Que a gente se ame, muito e tanto. Sempre."

Receita de Ano Novo

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"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

A equipe do Estouro em Palavras deseja a todos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de amor, paz, saúde, sorrisos e amizades verdadeiras. 
Em 2013, a gente se vê por aqui! ehehe

Vitrine

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Eu exponho meus sentimentos como numa vitrine, à espera de alguém que aceite pagar o preço que nunca entra em liquidação. Mas quando vem alguém e quer me levar sem questionar a etiqueta absurda, eu só penso na futura devolução. Quero voltar pros vidros sujos, a exposição sem objetivos, ver todos os produtos indo embora e eu ficando mais uma vez. Esses rostos que me encaram, os olhos que brilham, as ilusões que se formam, as expectativas que eu deixo criarem, são minha vida. Depois disso só resta a rotina e o medo de estar perdendo a melhor parte.

Estou cansada dessa promoção de mim. Cansei de me entregar tanto e nunca me entregar por completo, de ser só a promessa, a vertigem e a decepção. E então esse cansaço que não sei se é dos outros ou de mim mesma.

Estou te mandando um aviso. Bilhete colado na porta da geladeira, telegrama, sinal de fogo, e-mail, não importa. Estou gritando seu nome na areia da praia, do alto da minha insanidade. Vem me salvar. Me leva embora. Prova que não é igual, que a compra não vai ter devolução no primeiro defeito, porque eu sou cheia deles. Me compra, me leva pra casa com tudo o que tem direito. Com medo, com mania, com falar demais e sentir de menos.

Por eu ser cheia de ter certeza de tudo, só quero alguém que me prove o contrário.

A perseguição

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“Como loucos, vivemos perseguindo a tal felicidade. Meio cegos, nem percebemos quando ela de fato está sentada no nosso colo. Surdos, não ouvimos os sinais que a vida nos dá diariamente.

É uma perseguição sem fim. Uma busca constante. E uma pequena descrença, já que existem aqueles ditados que falam que felicidade dura pouco. Quer saber? Não concordo. A felicidade mora dentro da gente. Só que nem sempre temos capacidade de perceber.

A felicidade é sutil. É uma poesia, um pedaço de manga, um gole de vinho, uma música que arrepia. A felicidade é tão simples. Um abraço em quem a gente não vê faz tempo, um carinho de um amigo, um beijo em seu amor. É andar de mãos dadas, encostar a cabeça no ombro do outro no cinema, dormir juntinho. É cheiro de café passado, susto que passa logo, lambida de cachorro no nariz e perfume de flor. A felicidade é serena. Uma ferida que sara, a calça que finalmente entra, a tão desejada voz do outro lado do telefone. Um filho que aprende a dizer mamãe, a receita que dá certo, o olhar que se encontra.

Estou em uma fase muito feliz. E saboreando cada momento, sem perder um segundo sequer da tal felicidade."

Procura-se

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"Procura-se homem inexistente, amor incurável, saudade que preenche, sem aquela dor do vazio. Procura-se um jeito viril, toque rude e beijo suave. Aquele caminhar decisivo, um olhar interrogativo, mas de frases conclusivas. Procura-se uma companhia agradável, um cara que goste de animais, mas que passe longe das “vacas, cobras e galinhas” que encontrar por aí. Procura-se alguém que dirija o meu carro e o meu destino. O proprietário das minhas emoções, o inquilino do meu coração.

Procura-se uma paz de espírito infantil, um riso descontrolado, um mergulho na saciedade dos olhos. Uma convivência que acolha, uma despedida que nunca chegue, um reencontro sempre esperado. Procura-se um arco-íris cobrindo meu céu de certezas, dias ensolarados no lar, chuva de sensações sob nossas paredes. Procura-se êxtase ao atravessar a porta, descoberta do tato, nova percepção do olfato.

Procura-se sintonia, o sexto sentido do amor. Paixão mútua e declarada, parceria de defeitos e simplicidade nos lençóis. Música perfeita para os ouvidos do corpo, dança das almas no despertar de um sentimento. Procura-se o sono dos anjos, o sexo insano, o crepúsculo das vontades. Procura-se um desejo incontrolável.

Procura-se beleza na rotina, uma saudade irresistível, um olhar tranquilo. Uma calma suprema, uma indignação justa, uma revolta com méritos. Procura-se aquele orgulho de ser dele e só dele, autonomia da posse, dominação sexual consentida. Procura-se o cara, aquele cara, que será dono de mim, por inteira.

Procura-se alguém como você."

Dizer o amor

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Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha, mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mais amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.

Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.