Carta que nunca mandei

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"Quero dizer que tenho pensado muito em você. E isso me deixa triste. Vou explicar melhor, de uma forma mais adequada: não é pensar em você que me deixa triste. Quando penso em você, penso em nós. E me dá um calor no peito. Meu coração fica aquecido. E esse calor sobe até a garganta. Me dá um aperto. E vontade de chorar. De vez em quando eu choro, mas não te preocupa, não é sempre. Sei que você detestava me ver chorando.

Sinto saudade de nós, já te falei isso. E sei que não podemos ficar juntos. Talvez seja isso que doa lá no fundo. Você foi muito especial e, certamente, uma das melhores pessoas que conheci na minha vida. Não existe ninguém mais divertido e puro nesse mundo. Você sempre me entendeu. E me aceitou do jeito que eu sou: TPM, confusões, complicações, indecisões, pequenos-e-grandes-surtos, medo do escuro, medo de temporal, personalidade forte, etc. Você foi meu "etc". E fomos felizes. Descobri que fomos felizes. Temos afinidades e somos parecidos. Você é o rei da gracinha. E das piadas sem graça. É o pior jogador de futebol do mundo.

Quando penso em você dou um sorriso. E, preciso dizer, queria muito que você estivesse aqui. Preciso dizer mais, você foi quem eu amei. Quem eu mais amei. Não há um dia sequer que eu não pense em você."

Crônicas digitais: Criança

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FOLHINHA DE ABACATE NINGUÉM ME COMBATE!

"Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona o fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. (Têm coisas que não precisam ser explicadas. Pelo menos para mim). Tenho um coração maior do que eu, nunca sei a minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada). 

Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de Jornal Nacional, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo: eu não paro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono se você está feliz, se eu estou bonita, se vou ganhar estrelinha, se posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim. Não gosto de meias-palavras, de gente morna, nem de amar em silêncio. Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. E força não há de faltar porque – aqui dentro – eu carrego o meu mundo. Sou menina levada, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas.

Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu... Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, um bilhete, um brinde que você ganhou e não gostou, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Todo dia é dia de ser criança e criança não liga pra preço, pra laço de fita e cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço e surpresa!"