A visita.

Batem à porta. E abrindo a moça pergunta:

- Quem é?
- Não me reconheces mais?
- Não sei. Tem algo que me é familiar, mas não consigo lembrar... Não! Não pode ser. Como você pode estar de volta?
- Isso deve ser muito confuso para sua cabecinha realmente, mas sou eu mesmo.
- Como pode estar presente naquela época e nesta ao mesmo tempo?
- Veja bem, não estou lá, estou aqui.
- O que você quer de mim?
- A princípio te lembrar que não podes me abandonar.
- Mas eu não escolhi te deixar.
- Não se preocupe, eu sei que é da minha natureza ficar para trás, e que é da natureza humana caminhar para frente.
- Mas quero que saiba que nunca escolhi te esquecer. Não pensar em você talvez fosse uma saída para a dor que eu sentia, e foi. Só que nem assim eu consegui te apagar, você sempre viveu no vai e vem da minha memória.
- Comover-me-ia se pudesse me dar ao luxo de sentir alguma coisa, mas deixo as lágrimas só para a senhora.
- Por favor, por que está de volta?
- Também estou aqui para descobrir.
- Como assim? Não tem a resposta?
- Só a senhora tem a resposta.
- Eu?
- Não esqueça que eu sou apenas uma parte da sua vida.
- Você veio para ficar?
- Eu voltei agora, e esse agora pode sim demorar.
- E a quem devo cobrar? Não vê que me dói te encontrar?
- Já te disse que não sei, talvez algo tenha ficado pendente comigo.
- Juras que não sabe?
- Eu te adoro, faria tudo pra não te ver nessa agonia, mas essa vida não é minha.
- De qualquer forma é bom te ter por perto, mas tenho medo dessa, nem sei como chamar... estranha alegria.
- Eu te prometo que só vou te machucar o necessário.
- Mas eu já sofri tanto com essa história...
- Nós sabemos, mas a dor não vai ser nova. Fica tranquila, afinal, tudo em mim a senhora reconhece.
- Acho que começo a entender. É como quando a gente deixa a porta aberta...
- ...E uma hora é preciso voltar para fechá-la.
- Ou não, talvez tenha sido de propósito, para outro entrar.
- Tudo é possível, mas os burracos que trago, como a senhora mesmo disse, foram blindados contra o esquecimento.
- E eu mesma os blindei...
- É, a senhora entendeu.
- E são grandes?
- Alguns
- Quantos?
- Só a senhora para saber.
- Devem ser muitos...
- A senhora respira com dificuldade.
- Faz tempo que não vivo em paz.
- Por quê?
- Não sei, talvez eu soubesse que você chegaria.
- Então a senhora me chamou.
- Não sei se tenho esse poder.
- Querida, entenda, basta desejar.
- Acho que ainda não estou preparada.
- Mas se você me trouxe de volta, saberá o que fazer.
- Posso te pedir um favor?
- Qualquer um.
- Só parta quando estiver tudo resolvido.
- Vou partir quando a senhora quiser.
- Obrigada. Por favor, sente-se. Vou trazer uma caneca de chá.
- Chá? Como a senhora está mudada.
- Sim, mas ainda há a coca bem gelada.
- Serei o que quiseres que eu seja.
- Levante-se, venha, temos muito o que conversar. Fique comigo o tempo todo, até eu decidir se bebo coca ou chá.
- Nós vamos nos achar.


E os dois sairam de braços dados, a moça e o seu passado. 

Imagem: Deviantart

Texto do livro: Ela, a outra e eu.

3 comentários:

Melancia disse...

ela, a outra e eu.

né (L)

Érica Ferro disse...

Michelly é bárbara, cara.
Muito lindo o trecho do livro.
Aliás, eu quero esse livro *mimimi*.

Beijo.

Dany disse...

Só Ela, a Outra e Eu pra fzr vc voltar pra gente! hahahha

Amiiiiga, não some nããããããããão!

Lindo trecho, preciso desse livro urgente!

Beijão.

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