Fulanização

"Às vezes, um amigo nosso aparece com um sorriso perimetral no rosto. A pele mais macia. Conta uma piada depois da outra e paga duas rodadas de chope. É o efeito “nova namorada”. Assim que ele sai mais cedo que o usual – pois agora não vê a hora de ligar para a gata – inicia a Rádio Fulana. Afinal, como a fulana conseguiu amarrar o camarada?

Poderia dizer que são sintomas de inveja, sensação de perda de um parceiro ou uma solidão acostumada, típica de solteiros de carteirinha. Mas eu chamo de fulanização. Quando a garota tem um papo esperto, uma pele apessegada, um pai dono de empresa e um celular congestionado de mensagens, a compreensão fica fácil. Ela é uma joia ambulante, com pernas sinuosas. Quando não preenche os requisitos para protagonizar Malhação, fulanizamos ela. Fulanizar é não padronizar, não conseguir defini-la em uma palavra. Gostosa! Espetáculo! Miss! Nada disso, é só a fulana.

Os fulanizadores são pessoas que, antes de pegar na mão de alguém, casar ou se reproduzir, precisam saber se é possível duas pessoas viverem apaixonadas para sempre. Ou portam uma compulsão de se dar apenas a quem cabe no seu sonho. O que eles não se deram conta, é que só vale a pena se amarrar em alguém que goste de você exatamente do jeito que é. Como o camarada, que venera a fulana por seus atributos secretos.

E como ela conseguiu amarrar ele? Simples. Nenhum amigo de bar enxerga que a insegurança dele combina com a vontade de cuidar das pessoas que ela tem. Que ambos querem ter uma filha um dia, e até pensaram no mesmo nome. Que ela prefere fazer amor sábado à noite ao invés de frequentar lugares fechados. Ele vê que ela se preocupa quando ele trabalha até tarde ou demora para chegar. Que os dois gostam de vinho demi-sec, curtem voleibol, cachorro-quente de carrocinha e a novela das oito. Que ela ri quando ele gagueja em uma discussão, não se importa dele ser meio calado e reconhece nele um cara engraçado e carinhoso.

Ela é aquilo que ninguém vê. E tudo aquilo que ele gosta. No mesmo frasco, atrás do rótulo. E respondendo aos fulanizadores, é possível viver um longo período entusiasmado ao lado de alguém. Basta não relacionar-se com estereótipos, mas sim com aquele que sinta a mesma emoção em contemplar o mar ou olhar no fundo dos seus olhos. Com quem gosta de você como é vale a pena se amarrar. Por tempo indeterminado."

1 comentários:

Gabriela Castro disse...

Gabito é Gabito. Adorei! Bjs

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