À luz da Lua

“Te admiro.Você brilha aí, tão longe de tudo, de todos. Solitária. Não sente medo? Não, mas nem sinta: aqui em baixo as coisas são tão piores, que nem a vida melhora. Tem de tudo, de amor à ódio, de solidão à superlotação. Se bem que, se tratando do que falo, seu lugar é privilegiado. Assiste à casais românticos e suas juras eternas, poetas sonhadores e suas rimas fracas, algumas discussões que, depois de pazes refeitas, nem existem mais. Gente que chora, e te olha, como quem pede uma iluminação divina. Outros que dormem, e te ignoram, mas talvez porque hajam nebulosidades, nuvens, ou o eclipse. Por vontade própria, só com muita frieza para não notar esse seu brilho incandescente. Verdade, verdade.

E assistes à quase tudo isso, intacta em seu posto. Lugar de sentido. Se sente também sozinha? Alguns te visitam às vezes, és o sonho de consumo de outros tantos, mas acho que viver em você, ninguém vive. Meio como amor, que a gente tenta pescar e tirar a sorte grande, mas acaba por devolver ao mar sendo grande demais, muito pesado, ou incompatível com nossa voracidade atroz. Assim, que habita em nós, apenas o sentimento do outro. As lembranças de outras mentes. Isso seria então, amor. O que a gente sente, é então um presente ao próximo. E não tão suficiente assim, para nós mesmo. Você me entende, eu sei. São apenas visitas, e nada mais. Ficam umas almas, regressam outras, mas para sempre: nada. Nos entendemos só de nos olharmos, cumplicidade quase total. De sentimentos, irmãs.

Quando cansar, qualquer dia, troque comigo. Não sou assim tão branquinha, nem brilhante, mas faria um ótimo trabalhado sumindo quando me fosse pedido, e iluminando tantas emoções submersas. Apagaria quando necessário, ou então, contra minha vontade. Não escutaria as estrelas, eu sei. Seus egos imensos, e ataques de importância e mortes lentas, não são assim tão confiáveis. Apenas o mar como amigo talvez, os rios, as águas, que é pra não ficar completamente à mercê. Refletir neles deve ser uma beleza, um espelho de vivacidade. Bonito de se ver, estando dentro de tal fenômeno. Lindo! Então, co-irmã, qualquer dia é só pedir, uma aviso basta. Ou que me transporte para o seu colo, sua luz, que me deseje um caminho seguro e então, iluminado. Por você, por alguém aí de cima. Te ver já me acalma e manda mensagens quietas, pensamentos reveladores; nem mesmo eu imaginava existir nos rios aqui de dentro. E que me encontre, ou ajude, nesses dias de insônia, sobretudo, me tire a inquietação que é natural - mesmo que, em sonho. Arrivederce, lua.”

1 comentários:

Tata Santos disse...

"Quando cansar, qualquer dia, troque comigo. Não sou assim tão branquinha, nem brilhante, mas faria um ótimo trabalhado sumindo quando me fosse pedido, e iluminando tantas emoções submersas"

Texto maravilhoso, parabéns!!

Talita
tatapalavrasaovento.blogspot.com

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